Como forma de identificar substâncias que possam ter causado a morte de uma pessoa é feita a exumação do corpo da vítima. No procedimento, são coletadas amostras do cadáver para que sejam submetidas a análises periciais que possam identificar qual a substância causou o óbito e até mesmo se a quantidade ingerida foi responsável pela morte. Em Sergipe, no caso da jovem Indiane Fontes, 27, foi feita a exumação do corpo que identificou a presença de medicamento antidepressivo ingerido em dose acima da utilizada para tratamento terapêutico.
O delegado de Umbaúba, Gustavo Mendes, explicou que familiares da vítima procuraram a unidade policial informando que a jovem possivelmente teria sido vítima de homicídio com o uso de veneno. “Os familiares compareceram e declararam que a vítima não tinha dado entrada no IML e foi encontrada morta com alguns medicamentos e que o suposto autor teria sido o marido dela”, revelou.
Foi apresentada uma certidão de óbito, mas que não estava legível. Diante disso, o delegado buscou informações sobre acionamentos que teriam sido feitos à Polícia Militar ou ao IML. “Nos foi informado que nos dias 12, 13 e 14 não houve acionamento pelo Ciosp e tampouco entrada de cadáver com as características da vítima. Representei ao juízo criminal de Umbaúba e foi autorizada a exumação do corpo da jovem que estava enterrada no cemitério de Lagarto”, informou o delegado.
No dia da exumação, também foi ouvido o esposo da vítima. “Ouvimos na delegacia o suposto autor, que informou o quadro depressivo da esposa. Já tinha nove anos de relacionamento, sendo quatro de casado e tinha um filho de três anos. Ele informou que ela tinha problemas com os familiares em relação a separação de sua genitora, bem como o quadro hospitalar de seu filho. Ele apresentou o receituário de um medicamento que tinha sido datado em 14 de outubro e foi retirado dia 19 de outubro”, acrescentou o delegado.
Como parte da investigação, foi feita a exumação. O perito criminal Ricardo Leal explicou que foram colhidos material biológico para a análise da presença de substâncias que poderiam ter causado o óbito. “Nesse caso, o IML entrou em contato conosco solicitando informações a respeito do exame de toxicologia para um caso de exumação. Levantou-se a possibilidade de exumação do corpo para investigar se a vítima tinha usado algum medicamento ou veneno. Esse corpo havia sido enterrado há poucos dias e verificamos que havia a possibilidade de encontrar alguma substância que poderia ter provocado a morte”, detalhou.
Segundo o perito Ricardo Leal, como o sangue não poderia ser analisado devido ao embalsamento, foram colhidos outros materiais genéticos. “Solicitamos a coleta de amostras de material genético que poderiam auxiliar em nossas análises. Assim foi realizado pelo médico legista e pelos técnicos de necropsia. Algumas amostras de material biológico não foram encontradas em boas condições, como por exemplo o sangue. Mas foram coletadas amostras do fígado e do rim e também humor vítreo que fica no globo ocular e que nos casos putrefação fica mais preservado”, destacou.
O diretor do Instituto Médico Legal (IML), Vitor Barros, explicou que a análise do líquido do globo ocular foi fundamental para a identificação da presença do medicamento antidepressivo ingerido em dose superior à que é indicada. “Uma equipe do IML esteve no cemitério municipal para proceder a exumação. Ao que consta no inquérito, a vítima teria vindo a óbito de causas desconhecidas, mas não teria sido encaminhado ao IML. Na realização do procedimento, constatamos que a vítima foi submetida a um processo de conservação por formol. Nesses casos, coletamos um líquido chamado humor vítreo que fica no interior do globo ocular e é bastante utilizado para dosagem de toxicologia”, salientou.
Com base nas análises periciais feitas no líquido colhido no globo ocular da vítima, identificou-se a presença do medicamento antidepressivo. “Conseguimos pela análise do humor vítreo identificar o medicamento antidepressivo. Essa substância também foi quantificada e foi compatível com a quantidade encontrada no sangue acima da dose terapêutica e que pode sim ter provocado uma intoxicação da vítima pelo uso daquele medicamento. Como houve um pequeno espaço de tempo entre o enterro e a exumação, conseguimos sucesso nessa análise e identificamos o antidepressivo em dose letal que foi responsável pela morte da vítima”, evidenciou o perito.
Fonte: SSP/SE