A História a seguir foi baseada no artigo jornalístico “Something the Lord Made”, “Aquilo que o Senhor fez” (tradução literal) escrito por Katie McCabe e publicado no Washingtonian, que virou filme lançado nos EUA em 2004, no Brasil o filme foi lançado com o título de “Quase deuses”, que narra a biografia do Dr. Vivien Thomas (1910-1985) e do Dr. Alfred Blalock (1899-1964). A narrativa nos prova que é possível chegar a grandes resultados mesmo lutando contra as adversidades da vida.
Infelizmente a sociedade contemporânea desenvolveu um sistema defensivo extremamente prejudicial, o qual treina as pessoas para apresentar justificativas (leia-se desculpas) em vez de buscar com todas as suas forças alcançar os resultados desejados. Temos uma juventude focada na luta marxista de classes que fracionou a sociedade em diversos grupos antagônicos que em sua essência justifica os fracassos a partir das lutas entre as classes sociais é a famosa “Dívida Histórica”, dívida essa que é impagável, creio que os descendentes das classes chamadas de “privilegiadas” ainda terão que trabalhar alguns milênios em vão sem poder quitar a dívida reclamada.
Os acontecimentos narrados infelizmente são carregados por uma mancha racista “típica” da sociedade americana da época, mas tal obstáculo não conseguiu frear os objetivos e por assim dizer à vitória obtida por Vivien Thomas.
A História se passa em Nashville, capital do Estado do Tennessee, nos EUA a partir de 1930. Vivien Thomas é um hábil marceneiro, (profissão que herdou de seu pai) que tinha um nome feminino pois sua mãe achava que teria uma menina e, quando veio um garoto, não quis mudar o nome escolhido. Ele é demitido quando chega a Grande Depressão, (crise econômica que começou nos EUA a partir de 1929) pois estavam dando preferência para quem tinha uma família para sustentar. A Grande Depressão o atinge duplamente, pois sumiram as economias de sete anos, que ele guardou com sacrifício para fazer a faculdade de medicina, pois o banco faliu. Thomas consegue emprego de faxineiro, trabalhando para o Dr. Alfred Blalock, o qual fazia experiências médicas usando cães ele era um médico pesquisador que logo descobre que Vivien tem uma inteligência privilegiada e que poderia ser melhor aproveitado. Blalock acaba se tornando o cirurgião-chefe na Universidade Johns Hopkins, onde está pesquisando novas técnicas para a cirurgia do coração. Os dois acabam fazendo uma parceria incomum e às vezes conflitante, pois Vivien nem sempre era lembrado quando conseguiam criar uma técnica, já que não era médico.
No Hospital Universitário John Hopkins, Vivien auxilia o Dr. Alfred nos laboratórios. Logo o Dr. Alfred assume a missão de pesquisar uma solução para uma doença conhecida como o caso do Bebê Azul, manifestada por um problema cardíaco. Muitas pessoas veem com olhos torcidos a presença de Vivien no laboratório pois além de ser negro, ele nunca havia estudado medicina. Muitos na Universidade tentem dissuadir o Dr. Alfred a esquecer o caso, mas ele se mantém firmes nas pesquisas junto a Vivien. Finalmente eles encontram uma possível solução por meio de uma intervenção cirúrgica (fato que não era visto com bons olhos, pois até então se acreditava que o coração não poderia ser operado). Juntos eles mudaram o rumo da medicina. Juntos eles desenvolveram um grande feito.
Como o Vivien Thomas não possuía o curso de medicina neste caso o Dr. Alfred ficou com todos os créditos. Essa é uma distorção desta época e principalmente da sociedade contemporânea na qual o título acadêmico tem mais valor do que o efetivo trabalho realizado. Pessoalmente conheço pessoas incomuns como o Vivien Thomas que não possuem formação acadêmica, mas que dispõe de um conhecimento fora do comum e o inverso também é verdadeiro infelizmente conheço também diversas pessoas que são cheias de títulos, porém o conhecimento é irrelevante, o “cabra” não deixa de ser um “banana”, apenas porque frequentou um curso superior, o que deixa claro que a Universidade não é a única fonte de aprendizado.
Lamentavelmente por uma questão meramente normativa, em diversas atividades é exigido um diploma, o que potencialmente exclui aqueles que adquiriram conhecimentos de forma autônoma, seja por experiência profissional, seja por leituras por conta própria, ou até por dons e habilidades naturais. Isso é o que eu chamo de “monopólio do conhecimento”. Espero um dia ver o Brasil valorizar mais o conhecimento do que o título, quebrando este monopólio das universidades que na sua origem deveria universalizar o ensino, mas na verdade ela faz o contrário, afirmar ser a única detentora do saber, anulando estudos independentes e/ou habilidades e dons naturais.
Vivien Thomas deixa o Laboratório, mas não consegue esquecê-lo. Ele pede para retornar ao Hospital. O Dr. Alfred continua com suas pesquisas e Vivien consegue de certa forma seu reconhecimento. Os anos passam e ele se torna o Diretor de Laboratórios do Hospital. Por fim Vivien Thomas recebe o título de Doutor Honoris Causa.
O agora Dr. Vivien Thomas, que nunca cursou medicina, mas ainda assim, com sua determinação ele mudou o rumo das pesquisas em torno no coração e chefiou e ensinou diversos médicos nos processos das cirurgias cardíacas merecendo assim esse reconhecimento.
Este breve relato nos permite acreditar que sonhos e planos podem se tornar realidade. Mas isso só é efetivado quando os envolvidos resolvem enfrentar os obstáculos em vez de apresentar um argumento social, justificativas não resolvem problemas. O Dr. Vivien chegou ao seu objetivo e, diga-se de passagem, em um tempo muito mais complicado do ponto de vista racial do que a sociedade atual e se ele chegou lá o que te impede?
Recomendo o filme, “Quase deuses”, o mesmo está disponível gratuitamente no You Tube.
Reinaldo Valverde Pereira, o Professor Valverde é Licenciado em História e Bacharel em Teologia atua como Professor da Rede Estadual de Ensino da Bahia e Sergipe.