Duas publicações em perfis do Governo Federal nas redes sociais ironizando a operação da Polícia Federal (PF) contra o vereador Carlos Bolsonaro provocaram reações da oposição nesta segunda-feira (29). O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) indicou que acionará a Justiça contra a presidência. “Diante do uso da máquina pública federal pelo governo para fazer indiretas à oposição sobre investigações da Polícia Federal, por clara ofensa ao princípio da impessoalidade e moralidade, estou acionando hoje a Justiça. É um absurdo um comportamento desses com uso do dinheiro público para perseguir adversários”, publicou no X.
O ministro-chefe da Comunicação Social, Paulo Pimenta, refutou as acusações. “É difícil para quem raciocina em uma linguagem analógica tradicional entender o papel dos algoritmos nas janelas de oportunidades e fluxos que a comunicação digital precisa considerar”, começou. “É como se tivesse um trem em alta velocidade passando. Se eu ficar na frente sou atropelado Se eu embarco junto, viajo na velocidade do trem, e levo junto a minha mensagem. A mensagem principal é a dengue, o trem é a pauta do dia”, completou. “É assim que funciona. O resto é especulação e tentativa de tirar o foco do que é central e relevante neste momento”, concluiu.
A publicação a que se referem Nikolas e Pimenta retrata um gesto de batida à porta com os dizeres “toc, toc, toc”. Na legenda, a página publicou: “Quando os agentes comunitários de saúde baterem à sua porta, não tenha medo, apenas receba-os”. A publicação é uma menção clara a um meme da ex-deputada Joice Hasselmann, que, em 2022, encenou como seria uma batida da Polícia Federal contra Jair Bolsonaro: “Seis horas da manhã. ’Toc, toc, toc’. Três batidinhas na porta. Quem está do lado de dentro pergunta: ‘quem é?’. A resposta: ‘É a Polícia Federal’”, disse à época a ex-aliada da família Bolsonaro.
Entretanto, a postagem em questão não foi a única feita pelo governo em indireta à operação. A Secretaria de Comunicação também publicou uma arte sobre o aumento do salário mínimo com os dizeres estampados: “Grande dia”. A expressão é bastante usada por aliados de Bolsonaro.
Investigação da Polícia Federal mira Abin paralela
A operação da Polícia Federal (PF) contra o vereador Carlos Bolsonaro nesta segunda-feira (29) ocorre no âmbito da investigação sobre a Abin paralela. O inquérito instalado pela corporação analisa o uso de um programa espião da Agência Brasileira de Investigação (Abin) para espionar ilegalmente autoridades, jornalistas e adversários políticos de Jair Bolsonaro (PL), à época presidente da República. Segundo relatórios preliminares da Polícia Federal, servidores da agência monitoraram milhares de pessoas durante a gestão de Alexandre Ramagem — hoje deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro — na direção da Abin.
O uso da máquina pública para atender interesses pessoais através da Abin paralela teria ocorrido em conluio com o vereador e filho de Jair Bolsonaro, Carlos Bolsonaro. Ele é apontado como parte do núcleo político da Abin paralela. Outro alvo recente da PF no âmbito dessa investigação foi Alexandre Ramagem, que sofreu busca e apreensão na quinta-feira passada (25). Na data, surgiram outros detalhes sobre a atuação dessa agência paralela: segundo relatório da PF, a Abin teria sido usada para municiar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o caçula do ex-presidente, Jair Renan Bolsonaro, com informações para tirá-los da mira de investigações.
Fonte: Rádio Itatiaia