Lula critica ‘extrema direita racista e xenófoba’ ao defender união de países contra fome e desemprego

Foto: Ricardo Stuckert

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que as alternativas para combater a fome e o desemprego não virão da “extrema direita racista e xenófoba” ao discursar como convidado da 37ª Cúpula da União Africana, formada por 55 países. Neste sábado, Lula cumpre o segundo dia de agenda na Etiópia. Com o apoio do brasileiro, a Cúpula da União Africana se tornou, em setembro do ano passado, membro efetivo do G20, presidido pelo Brasil. A cerimônia de abertura do evento ocorre na capital etíope, Adis Abeba.

— O Sul Global está se constituindo em parte incontornável da solução para as principais crises que afligem o planeta. Crises que decorrem de modelo concentrador de riquezas, e que atingem sobretudo os mais pobres, entre estes, os imigrantes. A alternativa das mazelas da globalização neoliberal não virá da extrema direita racista e xenófoba. O desenvolvimento não pode continuar sendo privilégio de poucos. Só um projeto social inclusivo nos permitirá ter sociedades prósperas, livres, democráticas e soberanas. Não haverá estabilidade e democracia com fome e desemprego — afirmou Lula.

O presidente do Brasil afirmou ainda que o momento é “propício” para se resgatar tradições humanistas e que isso, frisou, implica condenar as agressões dos dois lados no conflito entre Israel e Hamas. Lula também defendeu que o fim da guerra no Oriente Médio passa pela criação de um Estado Palestino “livre e soberano”:

— Ser humanista hoje implica condenar os ataques perpetrados pelo Hamas contra civis israelenses e demandar a libertação imediata de todos os reféns. Ser humanista impõe igualmente o rechaço à resposta desproporcional de Israel, que vitimou quase 30 mil palestinos em Gaza, em sua ampla maioria, mulheres e crianças, e provocou o deslocamento forçado de mais de 80% da população. A solução para essa crise só será duradoura se avançarmos rapidamente na criação de um Estado Palestino livre e soberano, reconhecido como membro pleno das Nações Unidas.

Lula defendeu novamente que o Conselho de Segurança da ONU deve ser mais representativo, sem países com poder de veto e com membros permanentes da América Latina e África. O presidente afirmou que, há dois anos, a Guerra da Ucrânia “escancara a paralisia” do conselho.

— Há dois anos, a Guerra na Ucrânia escancara a paralisia do conselho. Além da trágica perda de vidas, suas consequências são sentidas em todo mundo, no preço dos alimentos e dos fertilizantes. Não haverá solução militar para esse conflito, é chegada a hora da política e da diplomacia. — defendeu.

Países visitados por Lula em sua primeira viagem internacional de 2024, Etiópia e Egito integram o Brics (bloco inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que também recebeu a adesão de Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes). O presidente afirmou que a consolidação do bloco se tornou “o principal espaço de articulação dos países emergentes”.

— Sem os países em desenvolvimento não será possível a abertura de novo ciclo de expansão mundial, que combine crescimento, redução das desigualdades e preservação ambiental, com ampliação das liberdades. — disse.

‘Brasil não enxergava o continente africano’

O presidente reforçou a importância de uma reaproximação com o continente africano e afirmou que por muito tempo o Brasil foi governado sem olhar para a África:

— O Brasil sempre olhou o mundo sem enxergar o continente africano. O Brasil durante muitos séculos foi governado olhando para o Estados Unidos e para a Europa, não via nem a América do Sul, e muito menos via continente africano. Quando assumi a presidência em 2003, resolvi fazer com que o Brasil se aproximasse do continente africano. O oceano Atlântico não é um obstáculo para nossa aproximação, é uma dádiva de Deus para nossa aproximação.

Lula lembrou que já visitou 20 vezes o continente africano, que em seus mandatos foram abertos 19 embaixadas no continente e tratou da dívida histórica do Brasil pelo período da escravidão

— Voltei a presidir o país e quero contribuir com o continente africano. Tudo, muito ou pouco, que o Brasil tem, quero compartilhar com o os países africanos, pois temos uma dívida histórica de 300 anos de escravidão e a única forma de pagar é com solidariedade e muito amor.

Mais cedo, o presidente brasileiro se encontrou por cerca de uma hora com o primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayyeh, para discutir a situação em Gaza. Um interlocutor de Lula presente no encontro afirmou que ele condenou os ataques e reafirmou a posição do Brasil de seguir tentando um cessar fogo, além de apoio para ajudas humanitárias.

Na quinta-feira, quando estava no Egito, Lula criticou a posição de Israel no conflito contra o Hamas. O presidente ressaltou que o Brasil condenou os ataques do grupo terrorista, mas que não há “nenhuma explicação” para Israel “estar matando mulheres e crianças”. O presidente brasileiro afirmou ainda que parece que Israel tem a “primazia” de não cumprir decisões das Nações Unidas (ONU).

Também para este sábado está prevista reunião bilateral com o presidente de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi. Neste sábado, Lula ainda participará de almoço em homenagem às autoridades que participam da Cúpula da União Africana, oferecido por Abiy Ahmed, e pelo presidente da Comissão da União, Moussa Faki Mahamat.

Inicialmente previsto, o encontro de Lula com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, não ocorreu, pois Guterres cancelou sua ida a Adis Abeba. Lula iniciou seu roteiro pelo continente africano na quarta-feira, quando desembarcou no Egito, onde se encontrou com o presidente do país, Abdel Fatah al-Sisi.

Fonte: O Globo

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