A reboque da filiação do ex-presidente Jair Bolsonaro, o PL se tornou nas eleições municipais deste ano um dos partidos que mais concentra candidaturas da área de segurança ou com identidade religiosa. Levantamento do GLOBO aponta que a sigla de Bolsonaro passou a liderar a primeira categoria, que abarca principalmente policiais civis e militares, e aparece em segundo na lista de candidatos religiosos, composta majoritariamente por pastores evangélicos.
Para especialistas, os dados sugerem capacidade de articulação do bolsonarismo nessas duas bases eleitorais, nas quais siglas de esquerda apresentam baixa penetração. O PT, por outro lado, é o partido que mais lançou candidatos que declaram ser professores — categoria com relativamente pouco espaço em siglas de direita, como o PL.
Na área de segurança, o partido de Bolsonaro saltou de 450 candidaturas na última eleição municipal — antes da filiação do ex-presidente — para 950 neste ano. Ao todo, há cerca de 6 mil candidatos que declaram ocupações ligadas às forças de segurança, ou que usam termos como “soldado” e “delegado” na urna.
Em 2020, o PSL quem ocupava a liderança deste ranking, com 753 candidatos. O partido, que ainda surfava no fato de ter abrigado a candidatura presidencial de Bolsonaro em 2018, se fundiu ao DEM após a última eleição municipal e deu origem ao União Brasil, hoje o terceiro com mais candidatos policiais.
Na seara religiosa, o Republicanos, partido criado em 2005 como um braço político da Igreja Universal, mantém desde então a liderança de candidaturas de pastores. Em 2024, porém, o PL se aproximou pela primeira vez.
— O bolsonarismo consegue organizar essas categorias e ganha força em nichos que rendem por volta de 20% dos votos. É por isso que consegue formar bancadas grandes nas eleições proporcionais — diz o cientista político Josué Medeiros, coordenador do Observatório Político e Eleitoral da UFRJ.
Na contramão do PL, as siglas de esquerda são as que menos têm candidatos com identidade religiosa ou da área de segurança. No caso do PT, só 0,4% do total de candidaturas do partido se enquadra em cada uma dessas categorias — percentual que ultrapassa 2% no caso de siglas alinhadas ao bolsonarismo.
A sigla do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, foi em 2024 a que mais lançou candidatos professores, mesma posição ocupada em 2020. Para Medeiros, o fenômeno pode estar relacionado à articulação de partidos de esquerda junto ao movimento sindical dessa categoria. Já partidos mais próximos a Bolsonaro, como o PRTB, estão entre os que menos abrigam candidatos professores.