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Marçal diz que ‘arrogância’ de Nunes impede apoio e ‘libera’ eleitores para votarem em Boulos no segundo turno em SP

O prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), e o rival Pablo Marçal (PRTB): disputa pelo eleitorado bolsonarista — Foto: Fotos de Maria Isabel Oliveira/O Globo

Após exigir um “pedido de desculpas” do prefeito Ricardo Nunes (MDB) em troca de apoio no segundo turno, o empresário Pablo Marçal (PRTB) descartou, nesta quarta-feira (9), colaborar com a reeleição do adversário em São Paulo. Em nota, o ex-coach afirmou que Nunes age com “arrogância” e “liberou” os seus eleitores a votarem de acordo com as suas “convicções, princípios e ideologias”.

“Diante das afirmações de Ricardo Nunes, comunico que não apoiarei sua candidatura neste segundo turno. A arrogância demonstrada não só por ele, mas também por Tarcísio de Freitas, Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, Silas Malafaia e Valdemar Costa Neto inviabiliza qualquer tipo de apoio”, escreveu o candidato do PRTB, que encerrou a sua participação nas eleições municipais em terceiro lugar, com 28,14%. Nunes teve 29,48% dos votos válidos e Boulos, 29,07%.

O ex-coach afirmou ainda que “a culpa” não será dele caso Guilherme Boulos (PSOL) se torne prefeito. “Libero os 1.719.024 cidadãos paulistanos que confiaram na minha candidatura para votarem de acordo com suas convicções, princípios e ideologias”, disse o candidato derrotado, em outro trecho da nota. “A arrogância precede a queda (…) Infelizmente, entrei nessa eleição para evitar a vitória de Guilherme Boulos, e agora, lamento dizer, essa previsão se tornou uma certeza”, acrescentou ele.

Aliados de Marçal apontam que a nota foi uma reação a uma declaração de Nunes, ainda na segunda-feira (7), de que não pretende conversar com o adversário a respeito do apoio. Na fala mais contundente, anunciou que o empresário não subiria em seu palanque contra Boulos.

— Não vou procurar. Se eu for procurado, vou dizer que espero que ele (Marçal) tenha aprendido com os erros e que possa fazer uma boa reflexão de tudo aquilo que cometeu de erros, que ele siga o caminho dele e eu sigo o meu. No meu palanque, não — afirmou.

De acordo com a colunista do GLOBO Bela Megale, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) conversou com o coordenador do plano de governo de Marçal, por telefone, a respeito do assunto na terça-feira (8), em uma tentativa de aproximação. O ex-coach, no entanto, condicionou as tratativas a um mea culpa do prefeito e de aliados da campanha, como o próprio Tarcísio, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia.

— Tem que se unir o escambau. Tem que se retratar. Você exagerou. Vai ter que pedir desculpa — disse Marçal, durante palestra em Alphaville.

Nas suas contas, “mais de 45%” dos votos recebidos foram de pessoas que não são de direita, o que traria peso ao seu apoio. Ele também descarta sugerir voto em Boulos.

— Jamais apoiaria.

A relação Marçal-Nunes

O momento mais tenso da relação entre o empresário e o atual prefeito ocorreu em debate realizado pela RedeTV! em parceria com o UOL, em 17 de setembro. Aos berros, Marçal disse que colocaria o atual prefeito na cadeia.

— Você vai ser preso por roubar dinheiro de creche. Você usou sua esposa para receber dinheiro de creche. Usou sua esposa e sua filha. Eu vou te colocar na cadeia.

Nunes gritou de volta, mas não foi possível entender o que falava em meio à gritaria. A jornalista Amanda Klein, mediadora do debate, precisou subir o tom de voz e pediu respeito.

Em debate do Flow, o desentendimento se deu nos bastidores. Marçal disse antes do programa que Nunes seria preso, e voltou a repetir o ataque já em suas declarações finais, acabando expulso por isso. O marqueteiro do emedebista, Duda Lima, orientava-o a não reagir às provocações do adversário quando foi abordado pelo cinegrafista de Marçal, Nahuel Medina, que tentava gravar a cena com o celular. momentos depois, quando já estava de costas, Duda Lima foi agredido com um soco pelo assessor.

Em outro debate, organizado pelo jornal “Folha de S.Paulo”, Marçal se aproveitou do fato de o oponente ter poucos segundos restantes de fala para questioná-lo nove vezes seguidas sobre um boletim de ocorrência por violência doméstica, em 2011.

Na época, a mulher de Nunes, Regina, com quem o prefeito permanece casado, disse aos policiais que estava separada há sete meses de Nunes, ainda vereador, “devido ao ciúme excessivo” e que o marido a ameaçava por ligações e mensagens. Ela depois negou o teor da denúncia.

Nunes, em contrapartida, também foi para o ataque usando termos como “delinquente”, “bandido”, “moleque lacrador” e “tchutchuca do PCC” para se referir a Marçal. Depois de o ex-coach divulgar um laudo falso acusando Boulos de ter sido atendido em uma clínica sob efeito de drogas, classificou Marçal como um “criminoso contumaz”.

O prefeito também usou o amplo tempo de rádio e TV e as dezenas de inserções diárias a que tinha direito para estimular a rejeição ao adversário. Em uma das peças, pediu ao eleitor que digitasse os termos “Marçal” e “PCC” no Google. Era uma forma de associá-lo a suspeitas que recaem sobre membros do seu partido, o PRTB.

A condenação de Marçal a quatro anos e cinco meses de prisão, na Justiça Federal de Goiás, por furto qualificado, em 2010, também deu a tônica do enfrentamento nos debates. A pena, em regime semiaberto, acabou prescrita e o caso, arquivado.

Nunes levou ao horário eleitoral uma delegada da Polícia Civil, Vanessa Guimarães, para comentar o caso, o que levou à Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-SP) a instaurar um procedimento disciplinar contra a servidora.

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