O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi transferido para São Paulo, nesta segunda-feira (9), e passou por uma cirurgia de emergência para a drenagem de um hematoma.
Segundo os médicos, a lesão identificada em Lula é decorrente de uma queda que ele sofreu em outubro, em um banheiro de sua residência oficial. Na ocasião, o presidente bateu a região da nuca e levou cinco pontos.
Após apresentar dores de cabeça nos últimos dias, ele procurou ajuda médica e fez exames, que constataram um sangramento entre o cérebro e a membrana meníngea (que reveste o órgão). Nesta terça-feira (10), o hospital Sírio Libanês confirmou que Lula foi submetido a um procedimento chamado trepanação (entenda abaixo).
O g1 conversou com especialistas que explicam o que é e como funciona essa cirurgia e por que hematomas cerebrais são formados.
O que aconteceu com Lula?
Lula teve uma queda em 19 de outubro. Em coletiva, os médicos explicaram que na época do acidente ele teve um sangramento, mas que foi absorvido sem necessidade de cirurgia.
Nesta segunda-feira, depois de uma dor de cabeça, os médicos fizeram novos exames e identificaram um sangramento maior, de três centímetros. A principal suspeita dos médicos é de que a lesão tenha relação com a queda.
O que é um hematoma cerebral?
O hematoma é resultado de uma hemorragia, ou seja, de um sangramento que acontece na parte interna ou externa do crânio.
Segundo a equipe médica de Lula, apesar do ferimento na queda ser na nuca, a hemorragia identificada no presidente estava na parte frontal do crânio.
A hemorragia identificada é do tipo frontoparietal, que fica entre o lobo frontal e parietal. O lobo frontal é o responsável pelos movimentos voluntários do corpo, a linguagem e o gerenciamento das habilidades cognitivas. Já o lobo parietal faz a integração das informações sensoriais, como toque, temperatura e dor.
Mas por que o sangramento aconteceu mais de um mês depois do acidente?
Felipe Barros, neurologista da Clínica DFV Neuro, afirma que o sangramento pode nem aparecer nos primeiros exames ou até ser diagnosticado no início, mas ainda de forma discreta. Em ambos os casos, é só depois que ele aumenta, como uma “torneira que ficou um tempo gotejando”.
Em geral, nesses casos, os pacientes apresentam dores de cabeça, tontura e confusão mental. No caso de Lula, segundo as informações oficiais, ele teve apenas dores de cabeça.
Lula não teve sequela alguma, afirma equipe médica
Qual foi o procedimento feito por Lula?
No boletim médico divulgado na última madrugada, o Hospital Sírio Libanês, onde Lula está internado, informou que o presidente havia passado por uma craniotomia. No procedimento, é feita a retirada uma parte do crânio para acessar a área atingida pela hemorragia e drenar o sangue.
No entanto, na coletiva feita pela equipe médica na manhã desta terça-feira (10), os médicos esclareceram que Lula, na verdade, foi submetido a uma trepanação.
Nesse caso, em vez de haver a retirada de parte do osso do crânio, são feitas discretas perfurações para “sugar” o sangue do hematoma.
Depois, não é feita qualquer intervenção para a cicatrização, porque ela acontece com o tempo, de forma natural.
Como é a recuperação?
Segundo a especialista, é possível que ocorra uma recuperação plena em pouco tempo após esse tipo de cirurgia.
Na coletiva de imprensa, os médicos de Lula informaram que o presidente está bem, não teve lesões cerebrais com o sangramento e não enfrenta riscos. A previsão é que ele tenha alta na próxima semana.
Qual a diferença entre AVC e um hematoma cerebral?
Segundo Barros, da Clínica DFV Neuro, hematoma é o sangue “contido”. “Em geral, é um diagnóstico que vem com um ‘sobrenome’: os mais comuns, após traumas na cabeça, são o hematoma subdural e o hematoma extradural”, diz.
Ele explica que é como se o cérebro fosse embrulhado para presente, em uma embalagem chamada meninge. Se o sangramento acontecer embaixo do “embrulho”, vai ser subdural; se for em cima, extradural.
Já os acidentes vasculares cerebrais (AVC) são relacionados aos vasos sanguíneos de dentro do cérebro. Há dois tipos:
- Isquêmico: um vaso entope, impedindo o fluxo de sangue;
- Hemorrágico: um caso é rompido, como se um “cano estourasse”.
No caso do AVC hemorrágico, há também a formação de um hematoma – a diferença é que é intracerebral. Apesar de a causa mais comum ser a pressão arterial alta, o quadro também pode estar associado a quedas ou choques na cabeça.
Fonte:g1