Ícone do site Simão Dias Como eu Vejo

O ano passou voando? Entenda o que pode te dar a sensação de que tempo está acelerado e como isso afeta sua saúde mental

Especialistas explicam o que está fazendo o tempo passar rápido demais — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Escutar áudios na velocidade 2x. Assistir vídeos em que as informações são passadas no menor espaço de tempo possível. Ver filmes ou vídeos longos de forma acelerada. Você se reconhece em alguns desses comportamentos?

Pode ser que você esteja tentando tornar tudo à sua volta mais rápido. Segundo a psicóloga que estuda a relação com o trabalho Ana Aversi, isso está acontecendo por dois pontos:

Os influencers de estilo de vida estão em alta e é bem comum ver vídeos com milhões de visualizações de pessoas que acordam ainda de madrugada e antes das 9h já malham, leram, passearam com os animais e estão trabalhando. Além dos coachs falando sobre como fazer renda extra com trabalhos além do seu trabalho.

O que a psicóloga explica é que nos dois cenários há um apelo para colocar cada vez mais atividades em uma janela curta de tempo e diminuindo o ócio.

Segundo especialistas, tentar acelerar a vida ou colocar compromissos demais na agenda fazem com que se tenha a impressão de que o tempo está rápido demais, mas, na verdade, é apenas distração demais para se concentrar no presente.

O tempo rápido demais pode ser um alerta para a saúde mental

g1 conversou com a psicóloga Ana Aversi, que estuda as relações com o trabalho, e a psicóloga e psicanalista Danit Pondé, que estuda o comportamento humano no mundo moderno. Elas alertam que se os dias não são suficientes para a lista de coisas que se quer fazer ou se tem sempre a sensação de que o tempo ‘voou’ isso pode ser um alerta para a sua saúde mental.

Depressão, burnout, ansiedade entre outros transtornos têm relação, também, com o estilo de vida. Um padrão acelerado, de cobrança por produtividade e de dependência pelos resultados que se espera ter com tanto esforço, podem ser gatilhos para essas doenças.

É um apelo para a produtividade que faz com que as pessoas tentem encaixar cada vez mais coisas na rotina, mas que fica impossível de conciliar. Essa necessidade de produzir o tempo todo ou de viver em um processo acelerado, faz com que a gente fique em estado de alerta o tempo todo e o nosso cérebro não foi criado para viver esse stress de forma contínua. Isso tem consequências

— Ana Aversi, psicóloga que estuda as relações com o trabalho.

Danit Pondé alerta que, ainda que as pessoas insistam em estímulos ou tarefas além do limite, o corpo é incapaz de acompanhar e começa a dar sinais. “As pessoas demoram para perceber, justamente porque se desconectam de si mesmas. É quando o corpo fala, problemas com o sono, doenças, mudanças de humor. O corpo não leva desaforo”, explica.

As especialistas reforçam que os excessos podem, sim, ser gatilhos para doenças, mas é preciso cuidado. Isso porque o estilo de vida pode se confundir com sintoma.

➡️ Um exemplo é a trend do TDAH. No TikTok há vídeos que somam milhões de visualizações sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, uma doença que tem como sintomas a dificuldade de focar, o esquecimento e impulsividade. (Leia mais sobre os sintomas aqui)

Eu tenho recebido pacientes adultos com relatos de sintomas de TDAH, mas que viveram uma vida inteira sem manifestar nada que levantasse essa questão. Quando você vai analisar a vida da pessoa, ela está vivendo acelerada, emendando uma tarefa na outra e se perdendo no meio disso. Ela não consegue nem absorver o presente, é turista da própria vida.

Outro ponto que as especialistas citam é que antes de se cobrar ou comparar, é preciso lembrar que o tempo é, também, uma questão social.

➡️ Por exemplo, uma pessoa pode levar quatro horas no transporte entre o trabalho e casa, enquanto outras levam minutos. As pessoas têm as mesmas 24 horas, mas elas não têm o acesso à mesma divisão de tempo.

Excesso de estímulos, trabalho e tarefas também pode fazer parecer que o tempo não é o suficiente — Foto: Pexels

O que fazer se o seu ano passou voando?

Se você se reconheceu nos comportamentos descritos ao longo desta reportagem e se também está no time de quem sente que ano passou voando, talvez seja o momento de ir na contramão das tradições dessa época, em que as pessoas começam a traçar metas, e fazer o contrário: uma pausa.

As especialistas sugerem algumas reflexões:

Não encare isso apenas pela perspectiva da produtividade. A questão não é gastar menos tempo nas redes para fazer outra coisa, mas refletir se você tem usado seu tempo livre, que poderia ser dedicado a se conectar consigo mesmo, apenas distraído com o feed.

Talvez essa necessidade de acelerar o ritmo de tudo ao seu redor esteja reforçando a sensação de que você precisa ser ainda mais rápido.

As especialistas explicam que, em um cenário tão focado na produtividade, é comum acumularmos afazeres demais. Elas reforçam que não dar conta tem menos a ver com sua competência e mais com os limites que são humanamente aceitáveis.

Fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo pode ser um comportamento e também um sintoma de que você está consumindo conteúdo online em excesso. Isso pode dificultar o foco em atividades que não oferecem tantos estímulos.

Sair da versão mobile