‘Jogo político’: da segurança à educação, passando pela inflação, Ipec inédito mostra avaliação do governo Lula por área

Reportagem do Wall Street Journal da última sexta-feira levantou os índices de popularidade de líderes de 25 democracias industrializadas e chegou à conclusão de que, com exceção da Suíça, nenhum presidente ou primeiro-ministro dessas nações está encerrando o ano com avaliação positiva. O jornal americano citou alguns exemplos: na reta final do mandato, Joe Biden, dos EUA, é aprovado por apenas 37% da populaçãoJustin Trudeau, no Canadá, por 26%; Emmanuel Macron, na França, por 19%; e Olaf Scholz, na Alemanha, por 18%. “Os três líderes globais mais populares na pesquisa da consultoria Morning Consult estavam todos em países em desenvolvimento, embora representem movimentos antiestablishment que expulsaram políticos tradicionais: o nacionalista indiano Narendra Modi (76% de aprovação), o liberal argentino Javier Milei (66%) e Claudia Scheinbaum, do México (64%)”, escreveu o WSJ.

Dados inéditos da última pesquisa IPEC de 2025 obtidos pela newsletter apontam para quais temas o governo Lula terá que olhar com mais atenção no seu biênio final. De nove áreas analisadas, oito têm avaliação negativa superior à positiva, cenário semelhante ao enfrentado pelos pares internacionais do presidente. Lula tem números para celebrar e outros para acender o sinal de alerta neste fim de ano. É a velha máxima do “copo meio cheio e copo meio vazio”. Na semana passada, uma pesquisa divulgada pela Quaest apontou que, na eleição de 2026, tanto o presidente quanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ganhariam com uma certa margem de candidatos de direita como Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas, Pablo Marçal e Ronaldo Caiado. Nos últimos dois dias, contudo, o Datafolha mostrou que a população mais rejeita que aprova a gestão de Haddad na Fazenda e que cresceu em quatro pontos percentuais aqueles que consideram o governo Lula ruim ou péssimo.

Abaixo, os números do Ipec separados por áreas de atuação.

Combate ao desemprego

É curioso como cada vez mais há disparidade entre sensação da população e indicadores oficiais. No fim de novembro, o IBGE apontou o menor desemprego da história do Brasil, com índice de 6,2%. Em abril deste ano, segundo o Ipec, a atuação do governo na área foi considerada ótima ou boa por apenas 26% da população e, agora, está fechando com índice de 30%. Mesmo com o mercado de trabalho em alta, 38% acham ruim ou péssima a atuação da administração Lula no combate ao desemprego, um ponto percentual a menos que em abril. Os entrevistados com renda acima de cinco salários são os mais incomodados (41% de avaliação negativa). “Não adianta o indicador estar bom e a percepção ser outra. Se isso ocorre, é porque a comunicação do governo não está boa”, diz Márcia Cavallari, do Ipec.

Combate à inflação

O dólar nas alturas e a inflação de alimentos ao longo do ano estão no cerne da percepção das pessoas de que a subida nos preços não está sendo atacada da maneira devida. A avaliação de Lula neste segmento fecha o ano com 47% das pessoas considerando ruim ou péssimo o combate à inflação feito pelo governo, 1% a mais que em abril; 21% consideram ótima ou boa a atuação (contra 23% há oito meses); e 28%, regular (número que se manteve estável ao longo de 2024). “Aqui, o problema é que, desde a pandemia, a inflação estabilizou em um patamar alto. Na hora do supermercado, a sensação das pessoas é que estão comprando menos do que antes”, afirma Cavallari.

Segurança

A área que a direita explora como ponto fraco e em que o governo tentou reagir com a PEC da Segurança segue como calcanhar de Aquiles. Em dezembro, a atuação no combate à violência foi considerada ruim ou péssima por 45% dos entrevistados, três pontos percentuais acima da marca de abril. No mesmo período, a avaliação de ótimo e bom caiu de 27% para 23%. O Sudeste, altamente impactado pelo noticiário da violência urbana de Rio e São Paulo, tem a pior avaliação para o governo (51% consideram ruim ou péssima a ação do Planalto).

Meio ambiente

O ano do governo oscilou no quesito meio ambiente conforme as queimadas se alastraram pelo Brasil. Em abril, havia um empate técnico na avaliação: 33% achavam a atuação do governo ótima ou boa, e o mesmo percentual considerava ruim ou péssima; em junho, a avaliação negativa escalou para 44%, e a positiva despencou para 27%; agora em dezembro, o governo recuperou terreno: 38% acham ruim ou péssimo o trabalho da área liderada pela ministra Marina Silva, e 31%, ótimo ou bom. “Foi um ano com muitos eventos climáticos na Amazônia, no Pantanal e no Rio Grande do Sul. As pessoas foram percebendo que o governo agiu e criou comitês de crise”, lembra Cavallari.

Educação

A pasta que criou o programa “Pé-de-Meia” é o carro-chefe do Lula III. Talvez por isso, às vezes o nome de Camilo Santana apareça como cotado para a sucessão do presidente. Encerrado o segundo ano do governo, o trabalho do Ministério da Educação é avaliado como ótimo ou bom por 37% da população; ruim ou péssimo, por 34%; e regular, por 27%. É a única área de saldo positivo na Esplanada. “Além do Pé-de-Meia, houve mais um Enem bem feito. Há um conjunto de ações”, pontua Cavallari.

Saúde

A CEO do Ipec lembra que saúde é sempre mal avaliada por eleitores de todo o Brasil, e com Lula não seria diferente. “É uma área confusa, tripartite. A pessoa vê em casa que alguém morreu em uma UPA e passa a ter a percepção de que a saúde está ruim em todo o país”, diz Cavallari sobre o caso que ocorreu no Rio nos últimos dias. Na pesquisa Ipec, 44% consideram a saúde no governo Lula ruim ou péssima; 28%, regular; 26%, ótimo ou bom.

Controle de gastos

Novidade na série histórica do Ipec, a capacidade de austeridade do governo também é considerada baixa pela população: 48% consideram ruim ou péssima a atuação do Planalto no corte e controle de gastos; 25%, regular; e apenas 21% ótima ou boa. Na segunda-feira, o governo estimou que a dívida pública chegará a 81,8% do PIB em 2027, patamar alto se comparado a outros emergentes.

Combate à fome e à pobreza

Nem mesmo na área em que Lula louva ser a fortaleza dos seus três mandatos a avaliação está positiva. O governo termina 2024 com 40% da população considerando o governo ruim ou péssimo no quesito combate à fome e pobreza, seguido de 31% avaliando como ótimo ou bom, e 27% regular.

Política externa

Não é o pior dos resultados para Lula, mas mesmo assim ainda obedece à lógica de um índice negativo superior a um positivo: 35% consideram a atuação do governo na área como ruim ou péssima; 31%, ótima ou boa; e 27%, regular.

Comunicação, a Geni de sempre de governos da esquerda à direita, e a única ministra que teve coragem de fazer uma autocrítica no fim do ano

Mesmo com tantas evidências de necessidade de mudança de rumo, a autocrítica tem passado longe do PT no fim do ano. Na entrevista ao Fantástico do último domingo, o único momento em que Lula se exaltou foi quando a jornalista Sonia Bridi o lembrou da reação do mercado após a divulgação do pacote fiscal. O Planalto tem tido muita dificuldade em admitir erros na divulgação das medidas econômicas, sendo a ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, a única a assumir os equívocos do governo, em rara entrevista concedida ao Valor na semana passada: “Sobre que o mercado reclamou? Sobre o que não entrou. E a gente não explicou o porquê que determinadas coisas não entraram (…). A gente mostrou o impacto de cada medida sem detalhar muito de onde vinha nossa conta, e não apresentamos o texto no momento. Assim, pessoas não poderiam fazer os seus próprios cálculos”, disse.

Não é de hoje que governos colocam a culpa na comunicação das suas medidas, e não nas próprias medidas, para justificar a insatisfação da população. Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação (Secom), é a bola da vez e deve ser removido da função após Lula criticar a comunicação do seu governo no início do mês, em evento do PT, antes da internação em São Paulo.

Como escreveu Thomas Traumann, em 2015, enquanto ocupou a cadeira de número um da Secom de Dilma Rousseff, “a comunicação é o mordomo das crises”. Em um documento vazado de avaliação interna do governo, o jornalista pontuou: “Em qualquer caos político, há sempre um que aponte ‘a culpa é da comunicação’. Desta vez, não há dúvidas de que a comunicação foi errada e errática. Mas a crise é maior do que isso (…). Mesmo admitindo o erro, a Secom cobra mais ação da militância petista, que, segundo a análise, perdeu a disputa nas redes sociais e nas ruas, desde as manifestações de 2013”.

Em 2020, o mesmo tipo de análise rondou o governo Jair Bolsonaro. Em entrevista ao site Poder 360, Fábio Faria, o então ministro das Comunicações, falou que a comunicação precisava melhorar com “menos guerra com a imprensa” e redução dos pronunciamentos no chamado “cercadinho”, local perto da residência oficial onde o ex-presidente conversava com apoiadores. “Ninguém aguenta meia hora falando”, disse em tom de crítica.

Normalmente contemplada com orçamentos robustos, a comunicação de governos também gera historicamente disputas de poder. Durante a era Michel Temer, texto de Gerson Camarotti de 8 de novembro de 2017, no G1, tratou de aliados do emedebista reclamando da comunicação falha do Planalto. Na ocasião, havia um racha entre profissionais da Secretaria de Imprensa e o grupo ligado ao marqueteiro Elcinho Mouco e ao ministro Moreira Franco, da Secretaria Geral da Presidência. Até uma foto de Temer afagando o seu cachorro Thor, publicada nas redes em um fim de semana, virou motivo de debate sobre a tal “falha na comunicação” do governo do emedebista: “Isso não é o Michel (Temer). Nunca ninguém viu ele fazer isso no Jaburu. Michel tem que tomar cuidado para não perder sua característica com uma exposição excessiva nas redes sociais”, disse um aliado em off a Camarotti, como se o carinho de Temer no animal de estimação fosse o causador da sua impopularidade, marca registrada da reta final do seu mandato.

Seis episódios sobre o maior ídolo do esporte brasileiro depois de Pelé destacam-se muito mais pelas cenas de ação do que propriamente pelos diálogos entre os personagens. As cenas de corridas enquanto piloto da Toleman, da Lotus e da McLaren, a rivalidade com Alain Prost e até a reconstituição de narrações com Galvão Bueno emocionam quem assiste. Como frisou bem a jornalista Isabela Boscov em seu canal no YouTube, “Senna vai bem na pista, mas engasga fora dela”.

Patrícia Kogut fez elogios à série, mas criticou algo que também me incomodou: a personagem que faz o papel de jornalista carrasco de Senna. “A função dela é explicar e reiterar o enredo. É como uma professora para alunos em recuperação. O recurso, uma bengala do texto, era totalmente dispensável”, escreveu. Já Boscov gostou da criação da jornalista fictícia: “É uma amálgama de vários repórteres com quem Senna conviveu”. Depois do excelente “Dom”, no Prime Video, Gabriel Leone vive mais uma biografia nas telas de maneira competente.

• O último episódio de ‘Caverna do Dragão’

Após 41 anos, o desenho, sucesso no Brasil nos anos 80 e 90, ganhou um final produzido pela Hasbro, empresa americana de brinquedos e responsável por uma linha de bonecos da série, em parceria com a Ogilvy Brasil e com os estúdios brasileiros Nonsense Creations e os Bonequinhos. “Caverna do Dragão” teve 27 episódios, mas nunca um capítulo de desfecho da trama, agora disponível no YouTube. Exibido inicialmente na CCXP, “O Episódio Perdido” tem 14 minutos e conta com todos os dubladores dos desenhos. Estão lá todas as teorias da conspiração das últimas décadas, dentre elas o Mestre dos Magos pai do Vingador.

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