
Um novo levantamento do Fundação Getúlio Vargas (FGV) Ibre indica que uma em cada duas famílias que passam a receber o Bolsa Família deixa a força de trabalho, isto é, deixa de estar ocupada ou de procurar emprego. O efeito, segundo o estudo, é mais forte entre homens jovens (14 a 30 anos) e se concentra principalmente nas regiões Norte e Nordeste.
De acordo com os autores, entre os potenciais beneficiários a taxa de participação caiu 11% em comparação a grupos similares sem acesso ao programa. Também houve queda de 12% na chance de estar ocupado e de 13% na probabilidade de ter emprego formal entre os recém-incluídos. O pesquisador Daniel Duque atribui parte do movimento ao receio de perder o benefício ao aceitar um emprego formal.
A análise do FGV Ibre ressalta que o desenho atual do programa, após a expansão nos últimos anos, pode desestimular a busca por trabalho formal em perfis específicos, sobretudo jovens e sugere aperfeiçoamentos para reduzir distorções, como ajustes de regras de elegibilidade e de transição que evitem “degraus” abruptos na renda ao ingressar no emprego formal.
Por outro lado, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS) destaca que inscritos no Cadastro Único, que inclui beneficiários e elegíveis responderam por 80% dos empregos com carteira gerados no Caged no 1º semestre de 2025, argumento usado pelo governo para dizer que programas sociais e inserção laboral podem caminhar juntos quando há políticas ativas de emprego e qualificação.
O debate é antigo e controverso. Organismos internacionais, como o Banco Mundial, já lembraram que a permanência fora da força de trabalho entre beneficiários envolve também barreiras estruturais, sobretudo para mulheres com filhos, como falta de creches e oferta limitada de escola em tempo integral. A recomendação recorrente é combinar a transferência de renda com portas de saída: qualificação, intermediação de mão de obra e regras de transição que não punam o ingresso no emprego formal.
*Com informações da CNN Brasil