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Morre aos 70 anos o sanfoneiro sergipano Zé Américo de Campo do Brito

Morreu na noite da quarta-feira, 24, aos 70 anos, o cantor e compositor sergipano José Américo, conhecido artisticamente como Zé Américo de Campo do Brito. O artista estava em Santa Catarina, onde realizava uma cirurgia reparadora em decorrência de um tratamento contra o câncer, mas não resistiu ao procedimento. Os detalhes sobre o velório e sepultamento ainda não foram informados pela família.

A Prefeitura de Campo do Brito emitiu nota destacando a relevância de sua trajetória artística e cultural. “O município e o estado de Sergipe lamentam a perda de um artista que se tornou referência no forró tradicional e símbolo da música popular regional”.

Natural do município de Campo do Brito, onde nasceu em 1955, Zé Américo iniciou sua trajetória musical ainda jovem. Chegou a vender cabras e uma égua para comprar sua primeira sanfona, instrumento que o acompanharia por toda a carreira. Após um período em São Paulo, retornou a Sergipe em 1981 e passou a se apresentar em Aracaju, onde consolidou seu nome no cenário musical.

O lançamento do álbum “Sonho de um Agresteiro” foi um marco em sua carreira, projetando-o para festas e eventos dentro e fora do estado. Ao longo dos anos, participou de programas de televisão locais e nacionais, como São João da GenteForró BodóMais Você e Fantástico.

Zé Américo também se apresentou ao lado de nomes reconhecidos do forró, como Dominguinhos, e foi premiado com distinções como a Sanfona de Ouro (2012) e o Troféu Marlins (2014). O artista participou de festivais culturais e deixou um repertório dedicado à música nordestina e às tradições populares da região.

Vida e obra: trajetória de Zé Américo contada em série do Portal Infonet

Parte da trajetória de Zé Américo de Campo do Brito foi registrada em uma série de matérias especiais produzidas pelo Portal Infonet durante os festejos juninos de 2012. Na ocasião, o artista concedeu entrevistas em que relatou detalhes de sua infância, da paixão pela sanfona, do início da carreira musical e da construção do seu espaço de convivência no Mercado Central de Aracaju.

Segundo ele, a paixão pela música surgiu ainda na infância, quando acompanhava reisados e leilões no interior sergipano. “Desde os meus 10 anos eu já assistia os reisados. Ia pros leilões onde tinha sempre um forrozeiro para fazer a abertura, e eu lá no canto ficava pertinho da parede com os sanfoneiros”, contou à época ao Portal. Ainda jovem, começou a tocar triângulo e zabumba, até adquirir sua primeira sanfona aos 14 anos, comprada com o dinheiro da venda de carneiros, uma vaca e outros bens.

Seu primeiro cachê, também de 18 mil réis, coincidiu com o valor pago na sanfona — número que Zé considerava seu número da sorte. Após esse início, seguiu carreira tocando em leilões e, posteriormente, migrou para São Paulo nos anos 1970, em busca de melhores oportunidades. Lá conciliou empregos com os primeiros passos para gravação de suas músicas autorais.

Seu primeiro CD, intitulado Sonho de um Agresteiro, abriu caminho para os álbuns A Velha Casa de Farinha e Forrozando nos Mercados — este último, inspirado na vida cotidiana dos mercados públicos da capital sergipana.

Também abordado nas reportagens do Portal Infonet em 2012, o restaurante de Zé Américo se consolidou como um ponto de encontro de forrozeiros e amantes da cultura nordestina. Instalado no Mercado Central de Aracaju, o espaço era mais do que um restaurante: era palco de apresentações semanais de forró pé-de-serra, comandadas pelo próprio artista.

Aos sábados, além do almoço, os frequentadores podiam acompanhar shows ao vivo, com repertório tradicional e espaço para a interação entre músicos e público. O local reunia turistas, músicos locais, comerciantes e admiradores, mantendo acesa a vivência do forró em um ambiente popular e acessível.

Zé Américo transformou o restaurante em uma extensão de sua trajetória musical, onde era possível experimentar não apenas pratos típicos, mas também a experiência cultural completa do forró autêntico. O espaço reforçava o papel do artista como guardião da tradição e da identidade cultural sergipana, a partir de uma prática cotidiana, enraizada na vida da cidade.

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