
O clínico geral prescreve 50 miligramas de um betabloqueador, duas vezes ao dia, para uma pessoa de 70 anos com insuficiência cardíaca crônica e arritmias.
Normalmente, isso ajuda o paciente. Mas o que acontece quando lá fora faz quase 40 graus, como nas ondas de calor extremo do Brasil? Esta é uma pergunta com a qual especialistas têm se confrontado cada vez mais diante das mudanças climáticas.
A temperatura externa desempenha um papel importante na dosagem de medicamentos. Para manter a temperatura central do corpo constante, o organismo reage ao calor intenso com aumento da sudorese, dilatação dos vasos sanguíneos e maior fluxo sanguíneo para a pele.
Se essa regulação térmica falhar, podem ocorrer problemas circulatórios, fadiga, tontura, dor de cabeça, cãibras, arritmias, infartos ou até um golpe de calor.
Quem toma medicamentos deve beber bastante água em dias quentes. A perda de líquidos pode intensificar o efeito dos fármacos e aumentar drasticamente os efeitos colaterais.
Mais mortes em ondas de calor
Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 490 mil pessoas morrem anualmente devido ao calor extremo, com tendência crescente nas últimas décadas.
O elevado número de mortes durante ondas de calor também está relacionado à alteração do efeito e ao aumento dos efeitos colaterais dos medicamentos, afirma Stingl à DW.
“Está claro na farmacologia clínica: as mudanças climáticas levam a mais mortes, principalmente entre idosos que tomam muitos medicamentos”, diz a especialista. “Os efeitos colaterais intensificados causam distúrbios de equilíbrio, tontura, problemas de coordenação e confusão mental.
Quem está mais vulnerável?
O grupo de risco inclui principalmente idosos e pessoas que necessitam de cuidados, indivíduos com doenças crônicas (especialmente aqueles com doenças cardiovasculares, pulmonares, renais e diabetes), bem como bebês e crianças pequenas, que suam muito e têm necessidade aumentada de líquidos.
Pessoas que realizam trabalhos físicos extenuantes no calor ou passam longos períodos ao ar livre, como trabalhadores da construção civil ou agricultores, também tendem a ser mais afetadas. É o mesmo o caso de pessoas sem-teto ou sem moradia permanente, que muitas vezes ficam expostos ao calor sem proteção.
Adaptação de diretrizes
Especialistas concordam: os efeitos do calor extremo sobre medicamentos devem ser mais considerados, sobretudo em regiões com clima em mudança.
“Com o avanço das mudanças climáticas, talvez seja necessário rever os processos regulatórios”, afirma Soko Setoguchi, professora de Medicina e Epidemiologia da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos.
Para determinados casos, pode ser também necessário ajustar a dose dos medicamentos. A decisão exige acompanhamento médico, levando em consideração as circunstâncias clínicas individuais e evitando alterações generalizadas na dosagem, explicam especialistas.
Fonte: G1