A escola ensina e cumpre programa, mas não prepara para a vida

Foto: Reinaldo Valverde/SDCEV

Trabalhamos um sistema educacional unificada para pessoas completamente diferentes. O nosso sistema de ensino seja ele o formal (escola) ou o informal (família) no que diz respeito a profissões é baseado em um sistema único. Geralmente os pais orientam os filhos com a clássica frase: “vá para a escola, tire boas notas e arrume um bom emprego”. Esta é a trilha da felicidade. Os problemas acontecem no trajeto porque nem todas pessoas se encaixam dentro desse padrão, ou seja, não conseguem entrar dentro desta caixinha.

     Esse sistema educacional padronizado faz as pessoas perderem tempo com coisas que são pouco ou nada produtiva para elas e é um grande desestímulo e a principal razão da evasão escolar, porque geralmente só nos dedicamos a algo que consideramos importante, não são raros os casos em que os alunos encurralam os professores com a seguinte pergunta: quando eu vou usar este conteúdo que estou aprendendo agora? Normalmente os professores ficam sem graça e não tem coragem de falar a verdade e procuram uma resposta técnica embasada em algum teórico famoso, mas que em nada responde de fato a pergunta do aluno, porque sejamos honestes a maioria esmagadora, com raríssimas exceções tem coragem de falar a verdade, e qual seria a resposta verdadeira? Estou aqui apenas cumprindo um programa, alguns de vocês dependendo da profissão poderão usar esse conhecimento algum dia, mas a maioria nunca vai usar para “bulhufas” nenhuma, estude e passe na prova é só isso que você precisa fazer, senão será reprovado.

     Sou professor em zona rural, que tem características diferentes e é notório o desinteresse de alguns alunos que não querem ser acadêmicos, mas há uma cultura que o aluno precisa fazer o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), fazer uma faculdade e pegar o canudo, muitos fazem isso e depois se perguntam: e agora?

     Há poucos dias atrás encontrei um aluno que até então não me entregou nenhuma atividade, (estamos em aulas remotas) detalhe encontrei ele dirigindo um trator estava trabalhando na colheita do milho, ou seja, os planos desse jovem devem estar voltados para esse seguimento e o que ele vai precisar é ter CNH- Carteira Nacional de Habilitação, possivelmente ele sonha em ter dinheiro suficiente para ter sua própria fazenda e fazer e seguir adiante nisso. Será que esse aluno vai querer saber o que significa a “fórmula de Bhaskara” ou o E=MC²? Será que ele vai se interessar em estudar as obras dos grandes filósofos gregos Aristóteles, Platão e Sócrates? Ou ainda para que “cargas d’águas” este jovem vai querer saber da atuação de Robespierre durante a Revolução Francesa ou de Simóm Bolivar e a sua luta pela independência da América Espanhola.

     Todos os temas acima citados são de enorme relevância e tem a sua importância, mas a pergunta é: são importantes para quem? Será que esse “caboclo” vai ficar dirigindo o seu trator e meditando na atuação de Simón Bolívar ou na filosofia socrática ou até mesmo fica imaginado com resolver uma complexa operação matemática usando a fórmula de Bhaskara? É uma pergunta retórica a resposta todos nós já sabemos, esse aluno não está nem aí para esses assuntos, volto a repetir são temas relevantes e importantes, mas para ele não tem valor algum. Possivelmente este aluno está interessado em saber como dirigir aquele trator novo, como consertá-lo quando o mesmo apresentar algum defeito, vai querer aprender qual é a espécie de milho que produz melhor e outras coisas relacionadas.

     Resumo da história temos um sistema educacional falido baseado num padrão preestabelecido, mas que não funciona para todos, sobretudo para aqueles que não acreditam na máxima: “vá para a escola, tire boas notas e arranje um bom emprego”, a questão é que nem todos querem ter esse bom emprego, muitos desejam apenas ter sua vida comum montando um pequeno negócio sendo um comerciante, açougueiro, padeiro, motorista e durante a sua vida exercer profissões que exigem um menor conhecimento acadêmico e exige um conhecimento específico que não é ensinado na escola, por ser profissões que estão fora do sistema acadêmico  são pouco reconhecidas, mas de relevante importância para a sociedade como um todo, mas tais pessoas se sentem realizadas fazendo tal coisa, simples assim, não existe a menor possibilidade de padronização do comportamento humano, todas as pessoas são seres individuais que possuem talentos, aptidões e desejos pessoais.

       Tenho certeza que as pessoas são felizes assim, mesmo estando fora da caixinha ensinada na escola. O jovem citado não me parecia deprimido por estar trabalhando e não podendo assim me entregar as atividades, muito pelo contrário me parecia estar bem feliz dirigindo seu trator e me disse que não teria condições de entregar as tarefas da escola, eu simplesmente disse vá em paz jovem, continue trabalhando, ganhe seu dinheiro e seja feliz e assim que você puder separe um tempo para fazer as atividades, falei isso por dever de consciência, mas na verdade eu sei que essas atividades que eu passei para ele em nada lhe acrescentará, senão apenas mas não menos importante o exercício da obediência e submissão a autoridade constituída, porque de conteúdo mesmo tenho certeza que de nenhum prestigio lhe servirá algum dia.     

Por Reinaldo Valverde Pereira (Licenciatura em História e Bacharel em Teologia, professor da rede estadual de Sergipe)

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