- facilmente perde o rumo).
- Frequentemente tem dificuldade para organizar tarefas e atividades (ex: dificuldade em gerenciar tarefas sequenciais; dificuldade em manter materiais e objetos pessoais em ordem; trabalho desorganizado e desleixado; mau gerenciamento do tempo; dificuldade em cumprir prazos).
- Frequentemente evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado (ex: trabalhos escolares ou lições de casa; para adolescentes mais velhos e adultos, preparo de relatórios, preenchimento de formulários, revisão de trabalhos longos).
- Frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (ex: materiais escolares, lápis, livros, instrumentos, carteiras, chaves, documentos, óculos, celular).
- Com frequência é facilmente distraído por estímulos externos (para adolescentes mais velhos e adultos, pode incluir pensamentos não relacionados).
- Com frequência é esquecido em relação a atividades cotidianas (ex: realizar tarefas e obrigações; para adolescentes mais velhos e adultos, retornar ligações, pagar contas, manter horários agendados).
⚠️ ATENÇÃO: Quando seis (ou mais) dos nove sintomas listados anteriormente persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades na infância, pode ser indicativo de que o paciente tenha o transtorno e vale uma investigação detalhada com o médico. Para adolescentes mais velhos e adultos (17 anos ou mais), pelo menos cinco sintomas são necessários para fechar o diagnóstico médico.
HIPERATIVIDADE E IMPULSIVIDADE
A hiperatividade e a impulsividade estão entre os sintomas centrais e, dentro deste conjunto, deve-se ficar atento a:
- Frequentemente remexe ou batuca as mãos ou os pés ou se contorce na cadeira.
- Frequentemente levanta da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado (ex.: sai do seu lugar em sala de aula, no escritório ou em outro local de trabalho ou em outras situações que exijam que se permaneça em um mesmo lugar).
- Frequentemente corre ou sobe nas coisas em situações em que isso é inapropriado. *em adolescentes ou adultos, pode se limitar a sensações de inquietude).
- Com frequência é incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer calmamente.
- Com frequência “não para”, agindo como se estivesse “com o motor ligado” (ex: não consegue ou se sente desconfortável em ficar parado por muito tempo, como em restaurantes, reuniões; outros podem ver o indivíduo como inquieto ou difícil de acompanhar).
- Frequentemente fala demais.
- Frequentemente deixa escapar uma resposta antes que a pergunta tenha sido concluída (ex: termina frases dos outros, não consegue aguardar a vez de falar).
- Frequentemente tem dificuldade para esperar a sua vez (ex: aguardar uma fila).
- Frequentemente interrompe ou se intromete (ex: mete-se nas conversas, jogos ou atividades; pode começar a usar as coisas de outras pessoas sem pedir ou receber permissão; para adolescentes e adultos, pode intrometer-se em ou assumir o controle sobre o que outros estão fazendo).
⚠️ ATENÇÃO: Quando seis (ou mais) dos nove sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível de desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades na infância, pode ser indicativo de que o paciente tenha o transtorno e vale uma investigação detalhada com o médico. Para adolescentes mais velhos e adultos (17 anos ou mais), pelo menos cinco sintomas são necessários para fechar o diagnóstico médico.
CARACTERÍSTICAS ASSOCIADAS QUE APOIAM O DIAGNÓSTICO DE TDAH
De acordo com a American Psychiatric Association / DSM-5, as características a seguir podem apoiar o diagnóstico:
- Baixa tolerância a frustração, irritabilidade ou alteração do humor.
- Desempenho acadêmico ou profissional prejudicado.
- O comportamento desatento está associado a vários processos cognitivos subjacentes e indivíduos com TDAH podem exibir problemas cognitivos em testes de atenção, função executiva ou memória, embora esses testes não sejam suficientemente sensíveis ou específicos para servir como índices diagnósticos.
- Risco aumentado de tentativa de suicídio no início da vida adulta, principalmente quando em comorbidade com transtorno do humor, da conduta ou por uso de substância.
- Atrasos leves no desenvolvimento linguístico, motor ou social não são específicos do TDAH, embora costumem ser comórbidos.
OUTROS ASPECTOS IMPORTANTES, CITADOS EM ESTUDOS E A PARTIR DA OBSERVAÇÃO CLÍNICA
- Acidentes não intencionais por conta da desatenção são observados já na infância. Ao longo do tempo, o TDAH pode trazer impactos e prejuízos significativos.
- Um maior risco de acidentes de trânsito e gestações não planejadas é observado na adolescência e no início da idade adulta.
- Até 50% das pessoas com o transtorno apresentam irritabilidade, baixa tolerância a frustrações, sintomas depressivos e ansiosos, de acordo com alguns estudos.
- Desregulação emocional, falta de motivação, menor qualidade de vida e baixa autoestima.
- Alterações do chamado sistema de recompensas: por isso, muitas vezes as pessoas com TDAH têm problemas com jogos – seja eletrônicos, de azar, apostas – e até problemas com substâncias.
- Tendência maior ao uso abusivo de telas e aversão a recompensas futuras. Ex.: um doce agora tem um valor muito maior do que daqui a algumas horas.
- Sensação de tédio, de aborrecimento e grande desconforto ao entrar em atividades em que não há uma recompensa ou prazer.
- Comportamentos de desafio, opositores e de agressividade verbal e física muitas vezes também persistem até a idade adulta.
- Risco aumentado de doenças inflamatórias autoimunes, obesidade e alterações de sono.
- A procrastinação é uma queixa frequente das pessoas com TDAH e é um motivo de sofrimento muito grande.
- Relações familiares frequentemente se caracterizam por stress com conflitos importantes – com a criança e entre o casal, em função de todas as dificuldades que enfrentam no desenvolvimento dos filhos.
- Um estudo de 2015 sugeriu que o TDAH pode surgir pela primeira vez na idade adulta. E um estudo sueco que incluiu 5 milhões de pessoas de 18 a 64 anos apontou comorbidades relacionadas ao TDAH, como: propensão ao suicídio, depressão, bipolaridade, ansiedade, diabetes tipo 2 e hipertensão. Tanto em mulheres quanto em homens essas comorbidades foram significantemente maiores em pessoas com TDAH do que em pessoas sem o transtorno.
Antigamente, havia a noção de que quem tinha sucesso educacional ou profissional não poderia ter TDAH, mas a clínica e os estudos mostram que muitas pessoas com o transtorno conseguem ter alto desempenho, sucesso e alcançar suas metas.
O médico explica também que o transtorno é caracterizado por uma desregulação do controle da atenção. O indivíduo tem dificuldade de decidir voluntariamente em colocar ou retirar a atenção em algum estímulo, independente do que ocorre ao redor. Isso explica o chamado hiperfoco em pacientes que, quando começam a ler algo que interessa a eles, ficam horas sem perceber o que ocorreu ao redor.
O fato de o transtorno ser amplamente heterogêneo explica pacientes que processam lentamente a informação e têm sonolência e outros que são mais agitados, buscam emoções e fazem esportes radicais.
A primeira descrição científica do TDAH ocorreu em 1902, como uma condição que afetava crianças e adolescentes com características de agitação, inquietude e muito relacionadas a prejuízos escolares. Os primeiros estudos que mostraram que a condição também acomete adultos sugiram na década de 1950.
Inicialmente pensava-se que o TDAH terminava ao final da adolescência. De fato, observa-se uma melhora clínica nos sintomas na vida adulta, mas eles não desaparecem por completo.
Os sintomas de desatenção tendem a persistir de uma forma mais relativa ao longo do tempo, enquanto sintomas de hiperatividade e de impulsividade melhoram de uma forma bem mais significativa.
“Cerca de 70% dos pacientes persistem na fase adulta com sintomas subclínicos e associados a prejuízo funcional. Há uma melhora dos sintomas, da capacidade atencional e motora. Mas essa melhora não necessariamente se traduz por melhora funcional”, explica Polanczyk.
Estudos apontam que pessoas com TDAH têm alterações na área do cérebro chamada de córtex pré-frontal, que desempenha funções amplas de regulação da atenção, das emoções e do comportamento.
Na infância, as crianças com TDAH costumam levantar bastante e ter dificuldade de controle do corpo – tanto em sala de aula como durante as refeições, inclusive.
Na adolescência, quando se espera uma autonomia maior, as questões executivas começam muitas vezes a ser a principal fonte de problema.
Nos adultos, as questões executivas muitas vezes são a razão pela qual os pacientes buscam atendimento. O paciente costuma não retornar as ligações, esquece de pagar as contas e de manter os compromissos. Existe uma dificuldade de gerenciar o tempo, fazer planejamentos, manter a organização, manter os pertences, os materiais e as roupas em ordem. Nessa fase, a distração com estímulos externos costuma ser chamada de devaneio.
Para essas pessoas agitadas e com necessidade de realizar tarefas, ficar parado ou relaxar ou não realizar nenhuma atividade é muito difícil. A impaciência e a dificuldade da espera também são características de quem tem TDAH.
O diagnóstico
A investigação do diagnóstico é clínica e precisa ser feita por um médico (geralmente psiquiatra ou neuropediatra). Psicólogos costumam ter conhecimento sobre psicopatologia e muitas vezes podem suspeitar e encaminhar o caso para o médico.
Com os testes neuropsicológicos disponíveis atualmente, muita gente entende que, se aparecer desatenção no teste, é TDAH. Mas muitas vezes não é. Assim como uma pessoa pode ter TDAH e não aparecer no teste psicológico. O teste neuropsicológico ajuda no diagnóstico, mas não confirma. Ele fornece dados para serem interpretados numa avaliação clínica.
O Dr. Kanomata alerta que a quantidade crescente de médicos mal formados e naturalmente mal preparados para fazer este diagnóstico acaba levando a falsos diagnósticos positivos ou negativos.
O médico afirma que, no caso de crianças, é muito comum a necessidade de investigação complementar com a realização de avaliação neuropsicológica para somar à entrevista médica. Já no adulto, muitas vezes não há a necessidade da avaliação neuropsicológica.
Apesar de serem observadas alterações no córtex pré-frontal em pessoas com TDAH, os exames de imagens – mais usados em pesquisas – não comprovam o diagnóstico. Isso porque identificar alterações nas imagens não leva a assertividade de qual ou quais dos diversos transtornos psiquiátricos está ou estão em questão.
Uma alteração na amigdala, por exemplo, pode ser depressão, síndrome do pânico e estresse pós-traumático. Já uma alteração no córtex pré-frontal pode ser esquizofrenia, dependência química, ansiedade, depressão, TDAH, ou outros transtornos completamente diferentes.
Os médicos destacam que o diagnóstico é importante em qualquer fase da vida, para iniciar o tratamento.
“A partir do momento que o paciente percebe que aquilo não é algo que está sob controle dele, isso pode gerar uma sensação de conforto. Por outro lado, pode levar a uma frustração, ao saber que, por meios próprios, sem tratamento, ele talvez não consiga dar conta do recado. E tem a questão de portar um diagnóstico psiquiátrico, que pode levar a estigmas. Muitas vezes os pacientes tendem a não compartilhar o diagnóstico para outras pessoas. Mas hoje já se fala muito mais em TDAH do que no passado”, diz Kanomata.
Tratamentos
Os tratamentos para o TDAH não levam à cura, mas sim à melhora dos sintomas e na qualidade de vida – assim como a diminuição do número de acidentes, no uso de substâncias ilícitas e no risco de depressão e suicídio relacionados ao transtorno.
Os adultos em tratamento percebem uma nítida discrepância quando os sintomas estão bem controlados – principalmente do ponto de vista familiar e profissional, segundo Kanomata.
Os tratamentos incluem:
•Terapia cognitivo-comportamental: um tipo de terapia em que se tenta identificar características e funcionamentos mal-adaptativos que possam estar relacionados a um determinado transtorno mental ou que facilite a abertura ou persistência de tal.
•Medicamento psicoestimulante, com metilfenidato (Ritalina) ou lisdexanfetamina (Venvanse), que são de primeira linha e com taxas de sucesso maiores no controle dos sintomas.
Quando estes não são eficazes ou não são bem tolerados, pode ser prescrita a atomoxetina (Atenta), que é um inibidor seletivo da recaptação de noradrenalina (medicamento de segunda linha).
Também pode ser usada a bupropiona (Zetron e Wellbutrin), que é considerado um medicamento de terceira linha e faz parte da classe dos antidepressivos.
A prescrição dos medicamentos costuma ter pausas nos finais de semana e nas férias e não existe um consenso sobre a dose máxima dos medicamentos. Mas observa-se que a melhora começa a ser menor a partir de doses maiores.
Ao prescrever a dose, o médico precisa avaliar o risco cardiovascular, como infarto, por exemplo. O psiquiatra Kanomata destaca que vários fatores precisam ser considerados para avaliar se vale a pena ou não iniciar um tratamento farmacológico. Ele lembra que o risco de eventos cardiovasculares aumenta com o avançar da idade, por exemplo.
É preciso também se atentar ao horário da administração do psicoestimulante, para não atrapalhar o sono.
“A gente está falando de um tipo de doença que tem um comprometimento da capacidade atencional e cognitiva. E a gente sabe que um padrão de sono adequado tende a restaurar isso. Então, uma pessoa com insônia vai ter os sintomas do TDAH piorados”, acrescenta Kanomata.
Em casos leves, em geral, o tratamento é menos intensivo. Mas a definição do que é leve é relativa. Por exemplo: uma pessoa pode manter a atenção necessária numa sala de aula, apesar de eventuais distrações, mas acabar se envolvendo em acidentes de trânsito. Por isso, o tratamento é importante.
“O movimento social da neurodiversidade é propor que o TDAH e o autismo são variações do desenvolvimento. Um aspecto muito importante é empoderar as pessoas das suas dificuldades, estimular que busquem de uma forma ativa a soluções para as dificuldades e não reforçar o modelo de doença e de incapacidade”, diz Polanczyk.
O uso excessivo de telas pode levar a um aumento de desatenção, mas isso somente não é TDAH e esse uso é avaliado também na investigação do diagnóstico.
Legislação
De acordo com a Classificação Internacional das Doenças (CID), o TDAH é considerado pela Organização Mundial de Saúde uma doença, mas no Brasil não existe uma legislação que dê prioridade para as pessoas com esta doença.
No ensino fundamental e médio, os alunos com TDAH têm direito a um tempo maior para realizar provas. Mas no ensino superior, ainda não há legislação para isso.
Fonte:g1