A dispensa do diploma: novos critérios para selecionar profissionais

Você já ouviu falar, um milhão de vezes, sobre a importância de se obter um diploma universitário. Por outro lado, a orientação mais comum dada aos recém-formados, em início de carreira, é: “esqueça o que você aprendeu na universidade, na prática, as coisas funcionam de outra
maneira”.

O descompasso entre aquilo que aprendemos nas universidades e as exigências do mercado não é recente, mas ter um bacharelado sempre foi uma referência rápida e objetiva, para maioria dos recrutadores.

A padronização do ensino universitário submete centenas de alunos a mesma grade curricular, sujeitos a leitura dos mesmos livros, recebendo as mesmas informações de professores e treinados para serem bem-sucedidos em ambientes artificiais, específicos e controlados.

Na realidade do mundo digital, onde precisamos ensinar a aprender, desaprender e reaprender constantemente — as universidades se tornaram obsoletas, uma obrigação maçante e de baixo retorno.

Uma pesquisa realizada pela IBM mostrou que a vida útil das habilidades profissionais caiu de 10 a 15 anos, para apenas 5 anos. Quando se trata de habilidades técnicas, este número é ainda menor, entre 2 e 2,5 anos. Isso significa habilidades técnicas aprendidas hoje terão metade do valor em apenas 2,5 anos.

Enquanto não surge uma alternativa clara, que conduza as universidades à atualidade, as empresas passaram a repensar algumas de suas práticas de contratação mais tradicionais. Com a falta de profissionais adaptados à nova dinâmica do mercado, recrutadores estão
ampliando suas prospecções, utilizando referências e canais de talentos, fora dos mananciais universitários.

O estudo de 2017, liderado por pesquisadores da Harvard Business School – (“Dismissed by Degrees”) – constatou que mais de 60% dos empregadores norte-americanos rejeitaram candidatos qualificados em termos de habilidades ou experiência, porque não tinham um diploma universitário.

Dos 11,6 milhões de empregos criados nos Estados Unidos, entre 2010 e 2016, três em cada quatro exigiam pelo menos um diploma de bacharel, e apenas um em cada cem exigia um diploma de ensino médio ou menos.

Uma das descobertas mais reveladoras da pesquisa apontou que muitos dos chamados empregos de “qualificação intermediária”, como representantes de vendas, inspetores, caminhoneiros, assistentes administrativos e encanadores, enfrentavam uma “inflação de
diplomas”, sem precedentes.

Por fim, os questionamentos feitos aos empregadores determinaram que trabalhadores sem diploma universitário eram frequentemente considerados tão produtivos quanto seus colegas com ensino superior, menos propensos a rotatividade e menos caros para as empresas.

Ao analisar mais de 51 milhões de ofertas de emprego, os pesquisadores descobriram que, entre 2017 e 2019, cerca de 46% das ocupações de “habilidade média” e 31% das ocupações de “alta qualificação” não restringiram as contratações, pela ausência dom diploma de bacharel, dando igual ou superior relevância as habilidades sociais e técnicas.

A menor ênfase aos diplomas universitários durante o processo de contratação foi determinada por questões estruturais, relacionadas as novas demandas do mercado e acelerada por questões cíclicas, relacionadas a pandemia de Covid-19.

63% das ocupações, para as quais os empregadores reduziram a ênfase aos diplomas universitários, ocorreram entre 2017 e 2019, reflexo das novas demandas do mercado e a crescente escassez de trabalhadores com habilidades técnicas. 27% das ocupações para as quais os empregadores reduziram a ênfase aos diplomas universitários, ocorreram entre 2019 e 2020, como uma possível resposta à crise sanitária.

Menor Ênfase aos Diplomas Universitários como Política Pública

A procura de novas formas de contratação, que superem a exigência de um grau universitário, vem sendo implementada por empresas com viés inovador, como Starbucks, Bank of America, Hilton, Google, IBM, Apple, Delta, General Motors e Ernst & Young. Mas também incentivada como política pública.

Em março de 2023, Barack Obama usou o Twitter para defender que as empresas deveriam acabar com a “inflação de diplomas” – um termo que descreve os empregadores que impõem requisitos acadêmicos como critério de eliminação ou para empregos que não precisam deles.

Os comentários de Obama vêm alguns meses depois da eliminação do requisito universitário para cerca de 65.000 vagas, ou 92%, dos cargos públicos no estado da Pensilvânia.

Em outubro de 2022, John Biden disponibilizou centenas de milhões de dólares em subsídios federais para os estados que expandirem os “Apprenticeship Program”, um modelo equitativo de “ganhar e aprender”, onde empregadores irão fornecer aprendizado e experiência remunerada no ambiente de trabalho.

Conforme Biden, o “Apprenticeship Program” oferecerá a todos os norte-americanos um caminho para uma boa carreira, independente do diploma universitário.

Concilie a sua Marca Social e Profissional

Você não precisa se considerar fora do jogo se não tiver um diploma. O mais importante é mostrar que você está motivado e possui as habilidades cognitivas, sociais/emocionais e técnicas.

Os recrutadores estão recorrendo às mídias sociais para analisar possíveis candidatos, portanto, não tenha medo de encontrá-los por lá e demonstrar como você seria uma excelente opção – diplomado ou não.

Confira algumas dicas sobre como influenciar os empregadores, através de sua Marca Social e as habilidades mais procuradas.

I – A maioria dos recrutadores considera as contas de mídia social de um candidato a emprego, em suas decisões de contratação e 79% já utilizaram esta ferramenta como critério de eliminação. Portanto, não trate seus perfis sociais como uma brincadeira, estabeleça sua
“marca online” e use este recurso para estabelecer um perfil competitivo.

II – Preste atenção nas pessoas que você segue. Envolva-se com os fundadores, líderes e colaboradores das empresas que admira e onde gostaria de trabalhar, repassando conteúdos e comentando suas postagens, com suas próprias ideias ou perguntas.

III – Escreva, publique e compartilhe conteúdos que indiquem a sua motivação e o conhecimento sobre sua área de atuação profissional. Adicione hashtags ao compartilhar um conteúdo, a fim de, atrair grupos de interesse e melhorar sua visibilidade.

IV – Seja incansável no processo de atualização de suas habilidades, por meio de cursos e programas de aprendizado, que oferecem conteúdo combinado a treinamento. Ao contrário dos cursos universitários, de natureza mais teórica e longos, os cursos técnicos de curta duração são de natureza mais prática e acompanham as demandas mais atualizadas do mercado. Não se esqueça de exibir suas novas qualificações nas mídias sociais, através de vídeos e posts.

Por Claudia Kodja 

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